A lagosta no rio São Francisco

Cari é peixe quase desconhecido no Estado, mas abundante em Petrolina



Texto: Tatyanne de Morais
Foto: Marcelo Lacerda

Para quem não conhece o cari, peixe nativo do rio São Francisco, com certeza falar que ele pertence à família Loricariidae e que seu nome científico é Rhinelepis aspera não vai ajudar. Então, para facilitar, adiantamos que ele segue a mesma ordem de um peixe já conhecido, o bagre. A sua aparência não é nada agradável, é um animal feio, exótico, e talvez por conta disso, durante anos foi considerado um peixe de segunda categoria. Hoje, quem chegar a Petrolina e procurar pela lagosta do Velho Chico - sua carne se assemelha à daquele nobre fruto do mar -, não vai ter dificuldade de achá-la. Com exceção do período da piracema, de novembro a fevereiro, quando a pesca é proibida. Por tal motivo que a nossa reportagem não conseguiu registrar imagens do ritual.

Não demorou muito para que o cari ganhasse vários preparos. É servido como filé, ao alho e óleo ou como protagonista de uma saborosa moqueca. O cascudo preto, como também é chamado, possui boca inferior provida de dentículos, cabeça grande e achatada, corpo delgado e, em vez de escamas, resistente casca de cor parda com manchas escuras, composta por placas ósseas que servem de proteção. A couraça recobre praticamente toda a parte superior do seu corpo, e como afirmam alguns pescadores, tornam o seu visual parecido com uma lixa. Já o ventre não tem o aspecto áspero. Além disso, apresenta tamanho médio de 50 centímetros e peso que varia de um a dois quilos. Na cadeia alimentar, come vegetais e musgos de pedras, e serve de alimento do surubim. A lagosta de água doce respira pelo estômago, na qual apresenta paredes vascularizadas. Por ser um peixe de corpo cilíndrico, possui muita carne, e o melhor, sem espinha. De acordo com o engenheiro de pesca Rozzanno Figueiredo, é rico em proteínas e é alimento de fácil digestão. O seu habitat é no fundo do rio e em locais de grandes correntezas.

A pesca
O cascudo não é conhecido por ser pego pela boca, e sim pelo corpo. Segundo o pescador Gilson Santos, mais conhecido como Piau, não há segredos para fisgá-lo. Primeiro porque quem está na Ilha do Rodeador, a 15 quilômetros do centro de Petrolina, recebe um sinal de alerta dado por moradores da comunidade do Angari, em Juazeiro, na Bahia, também localizada às margens do Velho Chico. “Eles passam perto da ilha e falam que o cari tá na área, que lá em cima tá bom de peixe”, lembra Piau. “A quantidade de peixe é tão grande que nem precisa levar o barco muito para o fundo”, emenda.

Embora a maioria dos pescadores descreva o ritual de pesca com praticidade, o procedimento é duradouro. Todos acordam cedo, e saem por volta das 5h30. Como não enredam apenas o cari, passam o dia coletando outras opções. Porém, para pegar a lagosta do rio São Francisco na época da afluência, é necessário escolher um ponto bom no rio, que vai depender do olhar do pescador, normalmente em água corrente. Depois, é hora de prender as pontas da tarrafa - artefato que possui tamanho médio de cinco metros e é feito de linha - na boca, e lançá-la. É preciso força e técnica para que a rede não enrole e caia perfeitamente na água.

Conforme Piau, o volume de cascudo no rio é tão grande que alimentos para servir de iscas são descartados. Poucos minutos depois, já se pode puxar o equipamento, que provavelmente subirá cheio de peixes e não cairá na água novamente. “É tanto cari que um pescador sozinho não é capaz de tirar a tarrafa”, destaca Gilson. “Em um dia, com apenas uma arremessada, a gente consegue tirar cerca de 300”, justifica o trabalhador José Tiburtino Freire, o Zé da Piranha, comprovando a boa safra do animal. O peso da quantidade coletada realmente é tão exorbitante que, às vezes, a rede engancha.

A época comum de acontecer o fato é após a piracema, depois dos peixes se reproduzirem e se desenvolverem. Nesse período, a água do rio está escura, e os animais, aglomerados, aproximam-se das margens. De acordo com Piau, se a água estiver limpa, isto é, em agosto e setembro, o peixe não sobe. No entanto, é com a água clara que é possível por em prática a pesca de mergulho, realizadas para poucos e corajosos homens. Segundo o engenheiro de pesca Rozzanno Figueiredo, o procedimento é difícil, logo o rendimento da coleta é baixo quando comparado com a extração por meio da rede.

Normalmente a comercialização do cari ocorre entre pescadores e fornecedores. Durante a fartura do animal, o volume de peixe é tão grande que o seu valor no mercado é reduzido. Nesses dias, a unidade pode ser encontrada até por R$ 2. Já no período da piracema, quando a pesca é proibida, o produto é bastante requisitado, sendo vendido em média a R$ 5. Para atender os apreciadores do cascudo, os fornecedores e restaurantes congelam o alimento. Em Petrolina, onde é nativo, é comercializado na Praça do Peixe, na rua Antônio Santana Filho, no Centro, de segunda a sexta, das 7h às 12h.Também pode ser encontrado na Feira da Areia Branca, na avenida Estados Unidos, no bairro de Areia Branca, aos sábados e domingos. Outra opção é a Colônia de Pescadores de Pedrinhas, situada a 30 quilômetros do centro de Petrolina. A média de preço é de R$ 4 a unidade, R$ 10 o quilo e R$ 6 a cabeça.

1 comentários:

Anônimo disse...

No Rio de Janeiro,tem no mes de maio um "Festival do Cascudo" ele é servido assado e cosido, é uma delicia.

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